quarta-feira, 4 de maio de 2011

Crescer, depressa?

como eu mesmo te disse um dia: ''posso já não ser o mesmo, mas tu também não''. essa é a verdade e se queres que te diga, nos dias que correm pouco me importa a tua opinião. mesmo sabendo que sempre fui algo insignificante para ti acho que esta na altura de te dizer que nem sempre foste o mesmo para mim e sobretudo há verdades que merecem ser ditas, verdades que ficaram perdidas pelo chão que tu calcas-te um dia sem querer saber do que estavas a deixar para trás. sempre me consideras-te pequeno, o miúdo tolo, o que se sentia revoltado com o mundo, o miúdo que de nada queria saber, que vivia num mundo completamente à parte, que apanhava e calava, o que saía de manhã e chegava à noite muitas vezes para nem para a tua cara olhar. apesar de ter uma visão diferente da tua, de certa forma a tua ideia a meu respeito não estava totalmente errada, mas isso também nunca te disse, muitas vezes por nem valer a pena. fiquei cansado de ser o miúdo que cujo o pai nunca compareceu nas reuniões de pais, que ficava à porta da escola à espera que te lembrasses que tinhas de me vir buscar, que tinha de aguentar as histórias dos outros meninos da turma em que diziam que o pai era o seu herói. nessas alturas, mesmo sendo novo, pensava para mim e guardava ao mesmo tempo o facto de tu nunca teres sido um herói para mim, pois nunca lutas-te por mim ou pela minha felicidade, desistis-te de mim mal te apercebes-te que eu poderia ser diferente de todos os outros meninos, que afinal de contas não ia seguir o caminho que tu querias que eu seguisse, rotulaste-me como sendo estranho, como se eu fosse algo que perdeu a validade, atiraste-me à vida sem rumo à espera que eu o encontrasse sozinho, deixaste-me crescer sem ter a figura de pai ao meu lado, deixaste-me crescer mesmo sabendo que eu poderia não estar preparado. mas mesmo assim, apesar de todo o rancor que nutro por ti, nunca te faltei com o devido respeito, nem nunca te fiz sentir mal pelo facto de eu não gostar de ti, nunca quis saber dos meus interesses primeiro que os teus, nunca deixei de me preocupar contigo cada vez que ficavas doente, nunca deixei de ter, sobretudo, pena de ti. no fim de tudo, de todo o mal, de todas as dificuldades que me fizeste passar, das noites passadas em branco a pensar no porquê de ser diferente, tu ainda tens a lata de me dizer que não és obrigado a ouvir-me, mas que em contra-partida eu tenho que te ouvir a ti? mesmo que vás dizer merda? que eu sou egoísta? que eu nunca fui um bom filho? ás vezes penso como é que eu ainda sou capaz de dar ouvidos ás tuas barbaridades, mais uma vez penso que seja pela enorme pena que por ti nutro.

Mas sabes, apesar de tudo, sinto a necessidade de te agradecer todos os dias, por me teres obrigado a pensar e agir como gente grande, quando eu tinha apenas palmo e meio, por me teres deixado para trás e seguires o teu caminho para que eu me virasse sozinho. e agradeço, sabes porquê? porque senão fosse isso, eu hoje, não era a pessoa que sou. Lutei por tudo aquilo que tenho sem nunca desistir, cada vez que olhas para mim, tudo o que vês, é graças a mim, se tenho roupas de marca, se tenho um bom telemóvel no bolso, é graças a mim, ou então à pessoa que tu achas importante salientar que odeias, pessoa que infelizmente (a teu ver) eu escolhi para a minha vida. mas olha, não gostas? as minhas sinceras desculpas, tenho pena, mas de nada me arrependo, porque enquanto tu foste um pai de merda, eu fui um filho maravilhoso.