quinta-feira, 24 de abril de 2014

Let it all go.


Engoli em seco, ignorei todos os meus medos e finalmente libertei as palavras que em mim mantive reféns durante tanto tempo. Agora que o fiz, sou capaz de dizer que me sinto livre, leve, como uma pena. Foram palavras que durante muito tempo atormentaram os meus sonhos, tornando-os escuros, baços e sem sentido. Foram palavras que por muitas vezes gritaram por socorro, sofriam por não serem ditas. Sempre soube disso, mas de forma fria fui capaz de as manter seladas no meu coração. Sempre fui uma pessoa com dificuldades em libertar confissões no que diz respeito aos meus sentimentos e dados certos episódios, que agora fazem apenas parte do passado, todas elas acabaram por aumentar. Embora considere que isso pouco acontece contigo. Pois a partir do momento em que entras-te na minha vida, a partir do momento em que eu te dei a conhecer quem eu sou, o que sinto, sempre me transmitis-te muita segurança. Talvez porque acredito na genuinidade do teu coração e na tua capacidade de respeitares os meus sentimentos. Não te julgo pela tua ausência, ainda hoje depois de tudo, não continuo a considerar um erro, mas sou realista o suficiente para admitir que muitas vezes o que me fez soltar palavras sentidas, foi o desespero por saber que te tornas-te tão grande, em algo com tanto significado, que considero insuportável viver sem. E por isso mesmo, acabei por te deixar ver para lá do que ninguém pode ver, embora certos sentimentos ainda se encontrassem cobertos por mantas negras. Mas agora, nada ficou por dizer, nada continua escondido e como disse, sinto-me mais leve por isso. Ao mesmo tempo, completamente despido. Confesso que me sinto com frio, com medo e apenas por uma razão. Agora que retirei as mantas negras por cima de tudo aquilo que guardei em segredo, apercebi-me, lembrei-me, de cada episódio que se passou, de cada página que escrevi desde o dia em que os meus olhos avistaram os teus apercebo-me do que me fez chegar aqui. E chega a ser engraçado a maneira de como até esse dia eu nunca tenha acreditado em amor à primeira vista. Tudo mudou quando te vi chegar. Lembro-me das borboletas na barriga, do conforto que deste ao meu coração a partir do momento em que a visão de te ver chegar o aconchegou naquela noite de Verão. Cheguei a pensar diversas vezes se estaria a sonhar, pois quanto mais olhava para ti, cada vez que fincava cada traço teu, comprovava que todas as tuas linhas sobrepostas sob o retrato daquilo com que eu sempre sonhei para mim, faziam um só. Foi um momento que ainda hoje recordo com saudade. Lembro-me de ter chegado a casa, de ter deitado a cabeça sob a almofada e ter sonhado com diversos episódios onde nós seríamos as personagens principais. Lembro-me de associar músicas a diversos acontecimentos, desde o primeiro beijo, ao momento em que ambos dizíamos ''sim'', até ao momento em que os nossos corpos se fundiam num só. Foi como se o facto de teres surgido na minha vida me tivesse dado liberdade para sonhar com tudo aquilo que até hoje nunca ninguém foi capaz de me proporcionar. E mesmo não sabendo o teu nome, ou até de onde eras, guardei-te com o maior afinco no meu coração, sempre em segredo. Voltei diversas vezes ao sítio em que te vi pela primeira vez na esperança de que esse momento se repetisse, por vezes acabei por ter sorte e fui capaz de continuar a sonhar, mas também não esqueço das vezes em que a sorte não me bateu à porta. E em consequência disso, lembro-me das noites em que acordava com a almofada encharcada por ter passado mais uma noite incapaz de controlar as minhas emoções. Mas nunca fiz com que essas noites me fizessem cruzar os braços e deixa-se de tentar. Não deixei de ir e a esperança de te ver fez-me sempre companhia. Com o decorrer do tempo, apercebi da tua dimensão, do teu peso sob mim, e fui sempre capaz de sorrir em função disso de forma a que tenha passado a ver como um porto de abrigo. Por todas as vezes em que a força escasseava, todas as vezes em que as palavras não chegavam, que a falta de aperto me sufocava, eu pensava em ti. E esse pensar trazia-me bem estar, como se estivesses a colocar um penso sob as minhas feridas, estancando assim o sangue que por vezes parecia não parar de correr. Contigo, tudo parecia possível, eras o remédio para todos os meus problemas. Eras o meu sol nos dias de chuva, o meu cobertor nas noites frias. E embora sinta saudades dessas alturas, nunca seria capaz de as trocar por aquilo que vivo contigo hoje. Que aos olhos de muitos, pode parecer insignificante, pequeno, mas que com certeza para mim vale o mundo. Por isso, formos nós para onde formos, só quero que saibas que te ficarei eternamente grato por fazeres parte de mim, do mundo. E aconteça o que acontecer, eu nunca vou deixar de desejar apenas o melhor para ti, pois sempre o foste para mim.