sexta-feira, 11 de abril de 2014


E são sempre os mesmos. Encontro-me perdido numa sala de espelhos em que de uma forma descontrolada, procuro respostas ás tuas atitudes, em que evito olhar o meu reflexo no espelho para que assim não fique consciente da verdade, pois assim, as feridas que tu um dia abris-te em mim não doam tanto. Irei sempre recordar com saudade as alturas em que deitava a cabeça na almofada e em que a partir do momento em que fechava os olhos, entrava num mundo só meu. Mundo que não este, de todo. Mas sim o mundo, em que eu te pintava com as cores mais alegres do arco-íris, no mundo em que tu eras alguém que não tu. E é disso que sinto falta, de sonhar com o impossível, de tornar aquilo que me magoa à luz do dia, em algo que me faz sorrir e querer mais. Penso que a partir do momento em que perdi o controlo do meu corpo, tudo acabou por desabar e impossível de conquistar outra vez. Por isso agora, controlar o mundo em que vivo a partir do momento em que fecho os olhos, está fora do meu controle. E acho que te vou odiar sempre por isso, por me teres tirado a habilidade de sonhar, pois dantes era apenas isso que me fazia viver mais um dia, era o que me dava a força para erguer a cabeça e seguir em frente, era o que me fazia ansiar pelo cair da noite para assim poder sonhar outra vez. E agora tudo o que resta, é esta mistura de amor-ódio. Ódio que me deixa com vontade de gritar todas as minhas dores ao mundo, ódio que me faz perder a consciência de que dia é hoje ou o que vou fazer amanhã. Um ódio que me faz olhar ao espelho e ver que não sou mais eu. E a verdade é que se costuma dizer que só nos apercebemos de quem somos, a partir do momento em que perdemos quem somos. E agora que sei o que fui, que sei o que fiz, vejo que nunca houve nada de errado comigo, sempre me limitei a ser um sonhador, um lutador sem fim. Gostava de poder recuperar quem era, mas essa página já foi virada e não há como voltar atrás... As linhas que hoje escrevo, são de alguém que vive agarrado à vida que tu deixas-te para trás sem hesitar, de alguém incapaz de controlar o que sente, de alguém que ainda depois de tudo, sente falta das tuas palavras e do teu amparo. Alguém que se habituou a viver do teu lado da estrada, mesmo sozinho.
Por isso, por ser tão incapaz, vejo-me limitado a fechar os olhos e a entregar-me a um mundo sombrio, que me deixa com frio, que me faz fugir do teu reflexo, que me faz esconder da tua sombra, que ignora o teu calor, o teu cheiro. Mas está tudo bem, porque não deixou de ser o meu mundo, mesmo que já não seja o que eu idealizei. E chega sempre o fim, eu consigo sempre encontrar a saída, mesmo que tu fiques sentado mais uma vez à minha espera pela noite seguinte.